Wednesday, October 03, 2007

.: B.O.s :.

A média de 1,25 boletins de ocorrência por ano (foram cinco b.o.s desde 2003) pode parecer até normal para quem reside na periferia de São Paulo e está inserido no trânsito caótico da capital, não fosse os quatro últimos terem sido registrados nos últimos 15 meses.
Três acidentes de automóvel, um seqüestro relâmpago e um roubo de automóvel. É claro que as batidas dão dor de cabeça (principalmente quando o outro envolvido é ladrão e sabe onde você mora) e prejuízo (aguardo até hoje ser chamada pra uma audiência na qual tentarei reaver R$ 1.000,00), mas nada comparado à impotência de você ser roubada.
Mês que vem fará um ano que estacionei o carro na esquina da curso de Inglês e, já do lado de fora acionando o alarme, fui surpreendida por um cara bem vestido falando ao celular que me mostrou a arma e pediu pra eu entrar.
Não reagi. Ele me empurrou pro banco do passageiro e rapidamente outro cara entrou no banco de trás. É uma situação de terror: dois caras armados que você nunca viu dentro do seu carro com VOCÊ. Pensei em duas coisas: seqüestro relâmpago ou estupro. Quando pediram minha bolsa, cartões e senha, fiquei mais tranqüila.
Consegui manter a frieza e passei a observar os movimentos dos dois. O motorista era o “chefe”, revistava meu carro, dava ordens, fazia os contatos com o resto da gangue no celular. O carinha de trás era o “bonzinho”: enquanto despejava o conteúdo da minha bolsa no banco traseiro, dizia que eu estava agindo muito bem ficando calma e cooperando, que logo eu estaria com minha família, e que, você sabe, emprego tá difícil e eles eram obrigados a fazer isso.
Após entregarem meus cartões e senhas pra outra parte da quadrilha, eles continuaram rodando comigo. Perguntaram que tipo de música eu gostava, eles diziam gostar de funk. “Fala a verdade, a senhora não curte né?” O que dizer? “Não, eu não curto funk e não curto ver o dinheiro que ralei pra ganhar indo pro rabo de filhas da puta como vocês.” Perguntei se eles iriam levar o carro e o bonzinho disse que não. “Aproveitem, acabei de mandar fazer o motor”. Até hoje não sei por que disse isso, acho que usei a ironia pra extravasar a raiva de me sentir tão impotente.
Após 45 minutos o seqüestro acabou: pediram pra eu dar um tempo e procurar a chave no pneu traseiro; eles estariam me olhando da esquina. Foi o momento em que mais tive medo, pois a rua onde me deixaram era escura e não passava viva alma. E se eles quisessem me dar um tiro, queima de arquivo, sei lá. Isso dificilmente aconteceria, se eles quisessem me matar não arriscariam atirar de longe, teriam me levado a um lugar conveniente para fazer isso. Mas àquela altura eu não conseguia mais raciocinar, e demorei a achar a chave do carro tateando o chão perto do pneu.
Quando finalmente a encontrei, voei para a Avenida Santo Amaro. Me sentir no meio do trânsito foi uma sensação de ter nascido de novo: eu estava fora de perigo. Cheguei em casa a passos duros, como sempre, mas aqueles eram mais tensos. Meu pai e minha mãe jantavam e eu abri a porta da cozinha e disse: “Eu estou bem. Sofri um seqüestro relâmpago, me pegaram na porta da Cultura, ficaram 45 minutos comigo e levaram meus cartões, mas estou bem.” Meus pais, estáticos, demoraram um pouco a entender. Afinal, não é corriqueiro ver a filha entrar em casa e dizer que foi seqüestrada. Após dar a notícia, tomei as providências básicas: cancelar todos os cartões e talão de cheque. Após a última ligação e constatação de quanto tinham me levado de grana, chorei.

Comments:
Dia sim dia não, eu vou sobrevivendo s/ um arranhão, da caridade de quem me detesta...

Lu, nunca vão tirar de vc aquilo q vc pode dar de graça, justamente pq vc escolhe pra quem dar. Vc se saiu mto bem, grana a gente consegue.
 
tem toda a razão, nacca
 
Lu querida, infelizmente, estamos à mercê disso. Principalmente, nas gdes cidades onde habitamos.

Admiro muito sua coragem, calma e pq não dizer frieza ao encarar a situação. Muita gente teria perdido a cabeça e feito uma besteira.

Q bom q assim aconteceu (melhor teria sido se nada disso tivesse acontecido, eu sei) e vc está aqui ao nosso lado para contar a história e nos fazer, mais uma vez, lamentar por esse país estar do jeito q está e promover tal coisa.

De resto, embora atrasado, espero q vc esteja bem por aí. Do lado de cá, as coisas andam meio brabas, mas vamos sobrevivendo, como o nacca disse aí em cima.

Um beijo grande.
 
que... horror...
sem palavras.
 
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