Friday, October 26, 2007

Ela não sabia de nada e não ter o controle do futuro a irritava. “Muitas possibilidades”, foi o que as últimas cartas disseram, mas isso era vago demais. Dentre tantas possibilidades, ele se foi e ela voltou à velha rotina solitária. E como tudo na vida dela é um ciclo, ela se afundou no trabalho, definhou um pouco, deixou as unhas quebrarem e os cabelos caírem, como se fosse necessário se desmanchar assim em cinzas.
Porém agora, com os primeiros raios de sol que ressurgem depois alguns dias chuvosos, ela decidiu se levantar. Só que precisa saber do futuro, sempre foi assim.

Tuesday, October 23, 2007

.: amanhã :.

Tem dias que você olha pra sua vida, pra tudo que aprendeu e viveu, pro dinheiro que não tem na conta, pros sonhos a serem realizados. E nesse rápido percurso passado-presente-futuro, você se cansa e deixa tudo pra amanhã.

Thursday, October 11, 2007

As 5 músicas que viraram minha trilha sonora:

1 - A fé solúvel (O Teatro Mágico)

Demorou, mas aqui está a top 5. Eu não sabia o que era “O Teatro Mágico” e nem o que era amor correspondido. Até abril deste ano.
Hoje faz quase dois meses do telefone-na-cara (versão pé-na-bunda para os amantes que não se vêem) e enxergo minha história com o Ricardo como um recorte feliz da minha vida. A parte triste eu também recortei, só que amassei e joguei fora. Agora eu posso contar pras minhas filhas e netas (por quê os meninos não se interessam por isso) que eu tive um namorado muito legal aos 26 anos, que a gente viajava junto, ia pra cachoeira ficar minutos em silêncio e que ele fazia jantar pra mim. Vou dizer que sim, que eu o amei e pensei em casar com ele, mas que não deu certo. Direi que ele foi o primeiro, muito esperado e especial. Contarei a história das nossas tatuagens e afirmarei, com orgulho, que ele foi o único a acabar de vez com o coração de pedra. E que toda vez que eu ouço “O Teatro Mágico” eu lembro dele.

.: B.O.s – parte II :.

Você acaba de levantar da cama às seis e meia da manhã, puta da vida porquê tem de se produzir para um evento do trabalho que acontecerá à noite e, com sua muda de roupa (separada na noite anterior) em baixo do braço, abre a porta do seu quarto em direção ao banheiro, tonta de sono, quando de depara com seu irmão gritando:
– O documento do seu carro! Pega o documento do seu carro, precisa passar pra polícia, a mãe tá no telefone!
Como eu permaneci com a cara de amassada e sem reação, meu irmão decide me acordar de vez:
– Acabaram de levar o seu carro, Luciana!
Dois dias depois eu lembrei que havia sonhado com isso: o meu carrinho novo, escolhido a dedo, sendo levado da garagem. Mas fora do mundo dos sonhos ele não foi levado da garagem, foi tirado das mãos do meu irmão enquanto ele tirava o carro da garagem. Eram quatro caras e uma menina, e ao menos uma arma. Quiseram levar meu irmão, mas provavelmente não sabiam nem pra quê: não havia espaço num Ka para 6 pessoas. Minha mãe assistiu a tudo do outro lado da rua: ela sempre sai pra abrir e fechar o portão.
Tomei as providências necessárias e fui trabalhar. Desolada. Já estava me conformando em tomar canseira do seguro pra receber a grana e em pagar por dez meses as prestações do vidro elétrico que mandara colocar. À noite, meu pai me avisa que o Flecha Prateada fora achado numa travessa da Estrada do M’ Boi Mirim. Saio voando da Av. Paulista, encontro meu pai e vamos em direção ao local do resgate. Eu já com meu coração na mão: será que está batido?
Ele estava bem estacionado em cima de uma calçada, à frente uns 300 m de um Celta vermelho, roubado pela mesma gangue. Ao fim da rua, uma Febém. Dei uma volta pelo carro e só haviam sinais de uma leve batida no pára-choque. Era fato que haviam levado o som e tudo o que tinha dentro. Abri o porta-malas e só encontrei o manual: tomara que enfiem os meus bastões de dança do ventre no cu uns dos outros. Entrei no carro pra dar a partida e fiquei surpresa ao ver que meu case ainda estava em baixo do banco do passageiro. Há um certo benefício prático em gostar de Shakira e Cardigans numa hora dessas.
Após a canseira de quase quatro horas na delegacia, voltei pra casa feliz e tentando entender de onde minha mãe havia tirado tanta convicção ao me dizer, ainda de manhã, que eles iriam achar o carro até o final do mesmo dia.

Tuesday, October 09, 2007

.: pausa da tarde :.

Gosto de ouvir os pássaros cantando aqui perto da minha sala.
Gosto de dar parabéns aos velhos amigos com quem não falava há tempos.
Gosto de celebrar o aniversário dos novos.
Gosto de fazer surpresas.
Gosto de fazer planos de ir pra praia.
Gosto, principalmente, de poder dizer: hoje eu fiz tudo isso. E são só quatro horas da tarde.

Wednesday, October 03, 2007

.: B.O.s :.

A média de 1,25 boletins de ocorrência por ano (foram cinco b.o.s desde 2003) pode parecer até normal para quem reside na periferia de São Paulo e está inserido no trânsito caótico da capital, não fosse os quatro últimos terem sido registrados nos últimos 15 meses.
Três acidentes de automóvel, um seqüestro relâmpago e um roubo de automóvel. É claro que as batidas dão dor de cabeça (principalmente quando o outro envolvido é ladrão e sabe onde você mora) e prejuízo (aguardo até hoje ser chamada pra uma audiência na qual tentarei reaver R$ 1.000,00), mas nada comparado à impotência de você ser roubada.
Mês que vem fará um ano que estacionei o carro na esquina da curso de Inglês e, já do lado de fora acionando o alarme, fui surpreendida por um cara bem vestido falando ao celular que me mostrou a arma e pediu pra eu entrar.
Não reagi. Ele me empurrou pro banco do passageiro e rapidamente outro cara entrou no banco de trás. É uma situação de terror: dois caras armados que você nunca viu dentro do seu carro com VOCÊ. Pensei em duas coisas: seqüestro relâmpago ou estupro. Quando pediram minha bolsa, cartões e senha, fiquei mais tranqüila.
Consegui manter a frieza e passei a observar os movimentos dos dois. O motorista era o “chefe”, revistava meu carro, dava ordens, fazia os contatos com o resto da gangue no celular. O carinha de trás era o “bonzinho”: enquanto despejava o conteúdo da minha bolsa no banco traseiro, dizia que eu estava agindo muito bem ficando calma e cooperando, que logo eu estaria com minha família, e que, você sabe, emprego tá difícil e eles eram obrigados a fazer isso.
Após entregarem meus cartões e senhas pra outra parte da quadrilha, eles continuaram rodando comigo. Perguntaram que tipo de música eu gostava, eles diziam gostar de funk. “Fala a verdade, a senhora não curte né?” O que dizer? “Não, eu não curto funk e não curto ver o dinheiro que ralei pra ganhar indo pro rabo de filhas da puta como vocês.” Perguntei se eles iriam levar o carro e o bonzinho disse que não. “Aproveitem, acabei de mandar fazer o motor”. Até hoje não sei por que disse isso, acho que usei a ironia pra extravasar a raiva de me sentir tão impotente.
Após 45 minutos o seqüestro acabou: pediram pra eu dar um tempo e procurar a chave no pneu traseiro; eles estariam me olhando da esquina. Foi o momento em que mais tive medo, pois a rua onde me deixaram era escura e não passava viva alma. E se eles quisessem me dar um tiro, queima de arquivo, sei lá. Isso dificilmente aconteceria, se eles quisessem me matar não arriscariam atirar de longe, teriam me levado a um lugar conveniente para fazer isso. Mas àquela altura eu não conseguia mais raciocinar, e demorei a achar a chave do carro tateando o chão perto do pneu.
Quando finalmente a encontrei, voei para a Avenida Santo Amaro. Me sentir no meio do trânsito foi uma sensação de ter nascido de novo: eu estava fora de perigo. Cheguei em casa a passos duros, como sempre, mas aqueles eram mais tensos. Meu pai e minha mãe jantavam e eu abri a porta da cozinha e disse: “Eu estou bem. Sofri um seqüestro relâmpago, me pegaram na porta da Cultura, ficaram 45 minutos comigo e levaram meus cartões, mas estou bem.” Meus pais, estáticos, demoraram um pouco a entender. Afinal, não é corriqueiro ver a filha entrar em casa e dizer que foi seqüestrada. Após dar a notícia, tomei as providências básicas: cancelar todos os cartões e talão de cheque. Após a última ligação e constatação de quanto tinham me levado de grana, chorei.

Monday, October 01, 2007

.: Arrumação :.

A exemplo das lembranças materiais e virtuais que restaram, fiz uma arrumação no meu coração também. Tratei de me livrar dos antigos amores. Do primeiro, do de pica, dos platônicos, das paixões, até mesmo do mal-resolvido, após o último sonho onde ele não escondia o incômodo em me ver conversando amigavelmente com sua esposa sobre seu filho.
Joguei esse monte de entulhos fora, varri, limpei, e olha, sobrou espaço viu. Após a faxina, empurrei prum canto o amor que te dei. Não lamentarei mais o pouco tempo. Nunca o renegarei. Porém, deixo-o aí nesse canto até que a poeira pese sobre ele, como fez com os outros, até se tornarem imprestáveis. Quanto ao vazio que restou, não preocupo nem um pouco. Hei de fazer o mesmo com a cabeça: lembranças boas guardadas na gaveta "para quando quiser sentir saudade"; lembranças ruins no compartimento "aprenda com o passado".
Estando tudo agora devidamente arrumado, posso prosseguir minha vida, solucionar os problemas, materializar os sonhos, torcer pelo sucesso dos amigos, cuidar de mim. Não quero notícias suas, torço por sua felicidade e que ela se concretize bem longe de mim. Eu tenho mais um verão pela frente, tenho o resto da minha vida. Motivo suficiente pra recuperar o sadio equilíbrio que tinha antes de você, não?

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